Morte de dentista em delegacia após prisão por embriaguez ao volante: o que se sabe e o que falta saber
Cezar Maurício Ferreira, de 60 anos, foi encontrado morto na cela de uma delegacia NSC TV/ Reprodução O dentista Cezar Maurício Ferreira, de 60 anos, foi en...

Cezar Maurício Ferreira, de 60 anos, foi encontrado morto na cela de uma delegacia NSC TV/ Reprodução O dentista Cezar Maurício Ferreira, de 60 anos, foi encontrado morto na cela de uma delegacia de São José, na Grande Florianópolis, em 19 de julho. Na noite anterior, ele havia sido preso por embriaguez ao volante. Porém, o laudo toxicológico indicou que ele não havia ingerido bebida alcoólica. Confira abaixo o que se sabe e o que falta saber sobre o caso: Quando ele foi preso? Quando ele foi encontrado morto? Ele estava realmente embriagado? Qual foi a causa da morte de Cezar? Foi encontrada alguma outra substância no sangue dele? A morte é investigada? A conduta dos policiais que abordaram Cezar é investigada? O que diz a família de Cezar? O que diz a PM? O que diz a Polícia Civil? Quando ele foi preso? Cezar foi preso na noite de 18 de julho, uma sexta-feira. Ele estava dirigindo e bateu na traseira de outro carro. A Polícia Militar diz que, durante a abordagem, os agentes identificaram sinais de alteração psicomotora. Por essa razão, foi levado à delegacia por suspeita de embriaguez ao volante. Quando ele foi encontrado morto? Cezar foi encontrado morto na cela da Central de Plantão Policial de São José na manhã de 19 de julho. Ele estava realmente embriagado? Não. O laudo toxicológico apontou que Cezar não havia ingerido bebida alcoólica. No boletim de ocorrência, os agentes que atenderam o caso informaram que o dentista não conseguiu responder os policiais por “estar aparentemente embriagado” e também não conseguiu fazer o teste de bafômetro. Qual foi a causa da morte de Cezar? O laudo feito pela Polícia Científica indicou que a causa da morte de Cezar foi cardiopatia hipertrófica. Ela é uma doença cardíaca que provoca arritmia. A cardiopatia hipertrófica é uma das principais causas de morte súbita, segundo o laudo. Foi encontrada alguma outra substância no sangue dele? Sim. O laudo da Polícia Científica apontou substâncias como antidepressivos, relaxante muscular, antibiótico e medicamento contra diabetes e hipertensão no sangue do paciente. O documento cita ainda que algumas dessas drogas podem aumentar o risco de arritmias. A morte é investigada? Sim. A Polícia Civil investiga a morte de Cezar, mas não foi divulgado mais nenhum detalhe da apuração. A conduta dos policiais que abordaram Cezar é investigada? Sim. Os procedimentos adotados pelos policiais militares são analisados em inquérito policial militar, informou a PM. Nenhum outro detalhe da investigação foi revelado. Morte de dentista em cela de delegacia O que diz a família de Cezar? A família se manifestou através do advogado de defesa, Wilson Knöner Campos. Confira abaixo a íntegra da nota: O Advogado da Família do Dr. Cezar Maurício Ferreira, diante do Laudo Pericial Complementar que determinou a causa da morte, considerando o interesse público e a necessidade de restabelecer a verdade dos fatos, manifesta-se por meio da presente nota. O Laudo Pericial confirmou o que a família da vítima, seus amigos e colegas afirmavam desde o momento em que souberam da estarrecedora sequência de erros que resultaram em sua morte: 1. A causa da morte foi um evento cardíaco agudo. O laudo é conclusivo ao apontar que o Dr. Cezar foi vítima de uma "Arritmia cardíaca causada por cardiopatia hipertrófica", uma doença grave da qual era portador. Seus sintomas de desorientação e incapacidade de comunicação não eram sinais do crime de “embriaguez ao volante”, mas sim o prenúncio de uma tragédia médica que se desenrolava em tempo real e que podia e deveria ser evitada pelos dois Policiais Militares e Policiais Civis que o prenderam e o confinaram naquela maldita gélida cela da delegacia para ter uma morte agonizante, sozinho, sem socorro algum. 2. A tese de "embriaguez ao volante" era uma farsa. Conforme a família sempre sustentou, o Dr. Cezar não havia consumido álcool. Não era de seu feitio e todos que o conheciam sabiam disso. A pecha vexatória, contudo, lançou mancha escarlata sobre a biografia de um homem íntegro e de reputação ilibada. O laudo, ao determinar uma causa de morte estritamente patológica, somado ao exame toxicológico anterior que já havia atestado a ausência de álcool, serve como prova científica definitiva da natureza leviana e falaciosa da acusação que fundamentou sua prisão ilegal e que deu causa a todos os demais atos que se seguiram. 3. O Dr. Cesar precisava de ambulância e atendimento médico, não de um camburão e prisão. Isso já era evidente desde a abordagem e prisão no local da colisão e se tornou mais nítido ainda com seu interrogatório de “faz de contas” pela delegada de polícia. As normas da própria polícia civil impediam que Cezar fosse recebido na DP naquela condição. A norma fala “não será recebido o conduzido que necessite de atendimento médico, mesmo que não existam lesões aparentes ou que a lesão não tenha relação com a ocorrência”. Já na entrada, era visível a desorientação total e incapacidade de se autodeterminar, ou seja, a necessidade de atendimento médico. Mas, em vez de socorro, seus algozes – os agentes estatais – lhe deixaram sem atendimento médico, o que, num caso de cardiopatia que escancarava sinais de emergência, equivaleu a uma sentença de morte por omissão. O que as provas agora demonstram inequivocamente é que, na noite de 18 de julho, os agentes do Estado se depararam com um cidadão em seu momento de maior vulnerabilidade. Um servidor público exemplar, um pai de família, um homem que precisava de uma ambulância, mas que, por uma presunção infundada e por uma grosseira falha de avaliação, recebeu como resposta uma viatura, uma acusação falsa e uma cela. A morte do Dr. Cezar não foi um acaso e nem um acidente. Foi o resultado direto de lhe ter sido negado o socorro médico que a situação exigia. Sim, policial não é médico e nem enfermeiro e por isso mesmo é que deveriam chamar atendimento médico ainda enquanto havia vida, e não só às 7h40 da manhã do dia seguinte e apenas para constatar a morte da vítima Dr. Cezar. Diante dos evidentes sinais de um homem agonizando e prestes a morrer, diante da inexistência de “odor etílico” [agora, até a escrivã e a delegada reconheceram expressamente, no novo inquérito, que 'não havia odor etílico algum'] cada minuto em que permaneceu sob a falsa acusação de embriaguez foi um minuto a menos em suas chances de sobreviver. E o avanço do inquérito e da investigação defensiva que apura sua morte já desnudou coisas horripilantes que ocorreram naquela noite: só um PM disse no inquérito que existiu “odor etílico”, e mais ninguém. Onde está a embriaguez caracterizada pelo “odor etílico”? Apenas na mente perversa de quem inventou essa mentira. O que levou os PMs a prenderem Cezar foi o suposto “odor etílico”. Os demais 'sinais de embriaguez' eram qualquer coisa, menos resultado de consumo de álcool. Mas agora, desvelada a mentira, já se ouve o burburinho sobre um novo 'scapegoat' que tentam inserir sorrateiramente: a invencionisse que os remédios que Cezar tomava é que geraram a prisão. Nada mais leviano. Afinal, sem o “odor etílico”, o que restaria? O motorista do outro carro envolvido na colisão, ouvido, frisou expressamente que não havia 'odor etílico' nem cheiro de remédio em Cezar. Ao chegar na DP, Cezar não ficou sentado nas cadeiras aguardando ser ouvido ou sendo 'monitorado'. Ao contrário, ele foi para a cela, de onde posteriormente foi retirado para um interrogatório por videoconferência e, em seguida, devolvido à cela; prevaleceu a presunção de que era “mais um bêbado” fingindo desorientação a fim de escapar da vergonha de ter que informar familiares e do escândalo que adviria [há um policial que diz isso!!!]; submeteram-no a um interrogatório de 'faz de conta', no qual a própria delegada admitiu que ele 'não tinha condições' de participar; omitiram a revista ou exame que teria revelado em segundos sua condição de cardiopata; e, por fim, o abandonaram em uma cela para morrer. São apenas a “ponta do iceberg” das revelações decorrentes das investigações. O homem foi encaminhado ao Presídio Regional de Criciúma. A família recebe a conclusão do laudo com o peso da confirmação, mas reitera seu clamor por Justiça. A verdade sobre a causa da morte está agora estabelecida. Falta, ainda, apurar e punir exemplarmente todos os responsáveis pela cadeia de negligências que permitiram que uma emergência de saúde fosse tratada como um caso de polícia, com consequências tão devastadoras e irreversíveis. O que diz a PM? Confira a íntegra da nota da Polícia Militar: A Secretaria de Estado da Segurança Pública, a Polícia Militar e a Polícia Civil lamentam profundamente o falecimento de Cezar Maurício Ferreira e se solidarizam com seus familiares e amigos neste momento de dor. Cezar foi abordado por policiais após colidir seu veículo na traseira de outro carro. Durante a abordagem, os agentes identificaram sinais de alteração psicomotora. Ele conversava com os policiais e apresentava indícios de estar sob efeito de álcool ou medicação, não tendo, no entanto, relatado qualquer problema de saúde. Diante do quadro, foi conduzido à delegacia para os procedimentos legais, onde ocorreu o fato relatado. Os procedimentos adotados pelos policiais militares estão sendo analisados em inquérito policial militar e a PMSC só poderá se manifestar depois de todos os tramites necessário serem finalizados e o laudo pericial for apresentado oficialmente. Da mesma forma, a Polícia Civil está com inquérito policial em instrução para apurar a causa da morte, com base no laudo oficial da Polícia Científica. O que diz a Polícia Civil? A Polícia Civil informou que só vai se manifestar quando houver novidades na investigação. VÍDEOS: mais assistidos do g1 SC nos últimos 7 dias